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terça-feira, 3 de julho de 2012

Menina má

Esta tarde empurrei a Arturo na fonte. Caiu nela e gorgolejou, gritou e foi ouvido. Papai e mamãe chegaram correndo. Mamãe chorava porque pensou que Arturo tinha se afogado. Mas não era assim. O médico veio. Arturo está agora muito bem. Pediu bolo de marmelada e mamãe lhe deu. Entretanto, eram sete horas, quase hora de dormir, quando pediu bolo, e apesar disso mamãe lhe deu. Arturo estava muito feliz e orgulhoso. Todo mundo lhe fazia perguntas. Mamãe perguntou como tinha caído, se tinha escorregado, e Arturo disse que sim, que tropeçou. É gentil que tenha dito isso, mas eu sigo detestando-o e voltarei a tentar algo na primeira ocasião.


Além disso, se não disse que eu o empurrei, talvez seja simplesmente porque sabe muito bem que mamãe odeia acusações. Outro dia, quando o enforquei com a corda de pular e ele foi contar a mamãe dizendo: “Elena fez isto”, mamãe lhe deu um tapa terrível e disse: “Não volte a fazer uma coisa assim!” E quando chegou papai ela o contou e papai também ficou furioso. Arturo ficou sem sobremesa. Por isso compreendeu, e esta vez, como não disse nada, lhe deram bolo de marmelada. Adoro bolo de marmelada: pedi para mamãe também, três vezes, mas ela não pareceu me ouvir. Suspeitará que foi eu quem empurrou a Arturo?



Antes, eu era boa com Arturo, porque mamãe e papai me agradavam tanto como a ele. Quando ele tinha um carrinho novo, eu tinha uma boneca, e não lhe teriam dado bolo sem dar para mim também. Mas desde faz um mês, papai e mamãe mudaram completamente comigo. Tudo é para Arturo. A cada momento lhe trazem presentes. Com isso não melhora seu caráter. Sempre foi um pouco metido, mas agora é detestável. Sem parar está pedindo isto e aquilo. E mamãe cede quase sempre. Para dizer a verdade, creio que em todo este mês só foi castigado no dia da corda de pular, e o estranho é que nesta vez não era culpa sua.


Pergunto-me por que papai e mamãe, que me amavam tanto, deixaram de repente de interessar-se em mim. Parece que já não sou sua menininha. Quando beijo a mamãe, ela não sorri. Papai tampouco. Quando vão passear, vou com eles, mas continuam desinteressando-se de mim. Posso brincar perto da fonte ou o que for. Dá na mesma. Só Arturo é gentil comigo de vez em quando, mas às vezes se nega a brincar comigo. Perguntei-lhe outro dia por que mamãe ficou assim comigo. Eu não queria tocar no assunto, mas não pude evitar. Ele me olhou de cima a baixo, com esse ar brincalhão que faz de propósito para me irritar, e me disse que era porque mamãe não quer ouvir falar em mim. Falei que não era verdade. Ele me disse que sim, que tinha ouvido mamãe dizer isso a papai e que disse: “Não quero ouvir falar nunca mais dela.” Isso foi no dia em que lhe enforquei com a corda. Depois disso, eu estava tão furiosa, a pesar do tapa que ele tinha recebido, que fui a seu quarto e lhe disse que o mataria.


Esta tarde me disse que mamãe, papai e ele iam à praia, e que eu não iria. Riu e me fez caretas. Então o empurrei na fonte.



Agora está dormindo e papai e mamãe também. Dentro de um momento irei a seu quarto e desta vez não terá tempo de gritar, tenho a corda de pular nas mãos. Ele a esqueceu no jardim e eu peguei.


Com isso, se verão obrigados a ir à praia sem ele. 

E logo irei dormir sozinha, no fundo desse maldito jardim, nessa horrível caixa branca em que me obrigam a dormir desde faz um mês.





Retirado de:Creepypastas Brasil







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